Por: Gabriel Rosa
Além de ser um poderoso exercício físico e para alongamento, a meditaçãoauxilia o indivíduo a se desestressar e se concentrar melhor quando necessário. Com as crianças, há uma vantagem extra: salas de aula tumultuadas tornam-se mais tranquilas, enquanto os meninos e meninas aprendem a lidar com a sua própria paciência.
— No momento em que a criança está mais calma, ela também percebe o ambiente ao seu redor mais calmo. Isso a ajuda a se aproximar do grande objetivo da meditação, que é o autoconhecimento — explica a psicopedagoga e facilitadora de ioga para crianças, Taísa Canabarro.
Veja abaixo cinco benefícios para quem pratica a meditação durante a infância:
:: HÁBITOS MAIS SAUDÁVEIS
O sedentarismo é um dos principais inimigos da infância no século 21. Embora estejam em uma das fases em que a atividade física constante é mais importante, crianças estão cada vez mais acostumadas a passarem horas sentadas ou deitadas.
É aí que a meditação entra: por mais que sejam apenas alguns minutos por dia, o simples “parar e sentir o próprio corpo” podem influenciar no desenvolvimento físico dos pequenos e incitar novos hábitos, mais saudáveis.
— A prática da ioga está bastante ligada ao desenvolvimento motor, mas também à questão do alongamento e do autoconhecimento. Como você está totalmente presente naquele local, naquele instante, sua própria percepção corporal se desenvolve melhor — explica a psicopedagoga Taísa Canabarro.
:: MELHORA COGNITIVA E ESCOLAR
Parar durante a aula como forma de melhorar o rendimento parece um contrasenso, mas não é. Como explica a presidente da ONG Mahatma Meditação Paz nas Escolas, Anmol Arora, a meditação ativa as zonas mais nobres do cérebro, responsáveis por ativar o que entendemos por “inteligência”. A própria fixação da memória funciona melhor quando isso ocorre.
Pesquisa da Mahatma Meditação com alunos da 5ª série revelou grande melhora nas funções cognitivas das crianças que paravam alguns minutos por dia. O próximo passo é ampliar o estudo, em parceria com a PUC-RS, para avaliar o desenvolvimento de 1 mil alunos de várias idades, o que deve ser publicado até dezembro.
Um estudo anterior, feito pelo Centro de Mapeamento do Cérebro da Universidade da Califórnia (BMAP/UCLA) em 2013, afirma também que a meditação ajuda a reduzir os efeitos da idade e retarda o declínio cognitivo, sendo muito mais efetiva se praticada desde jovem.
:: REDUÇÃO DA ANSIEDADE
Diversos estudos apontam uma relação direta entre a meditação e o comportamento impulsivo e ansioso. Embora o impulso seja algo inerente às crianças, existem situações em que ele é prejudicial tanto para ela própria quanto para os outros – como as brigas na escola, por exemplo, ou problemas individuais como obsessões.
Hoje, a meditação já é bastante usada para diminuir os sintomas da depressão, da ansiedade e de distúrbios alimentares, inclusive no Brasil.
Taísa Canabarro explica que a meditação ajuda a criança a lidar com problemas cotidianos em que normalmente ela perderia a calma.
— Uma criança que eu atendo se machucou na escola e, quando percebeu a raiva que estava, parou e respirou profundamente por alguns segundos. Esse é um exemplo claro de autodesenvolvimento e redução dos impulsos ruins: ela interiorizou a prática e superou aquele momento, o que é o grande ganho da meditação.
:: AUMENTO DA EMPATIA E DIMINUIÇÃO DO BULLYING
A falta de empatia com os colegas ou com a família costuma ser intimamente ligada ao bullying: a criança que sofre agressões constantes se torna mais fechada, acanhada ou até agressiva, podendo repetir a violência com os outros se tornar parte de um ciclo difícil de romper. Assim, a meditação surge como uma forma de melhorar o estado emocional e aumento da tolerância.
Pesquisa de 2012 em uma escola pública de Natal (RN) mostra que apenas uma semana de meditação foi o bastante para 80% dos professores notarem melhoras no ambiente escolar.
Segundo Anmol Arora, quem medita reduz os níveis de estresse e aumenta o de neurotransmissores relacionados ao bem estar como dopamina, serotonina, melatonina. Ela relata que, quando submetidos a um eletroencefalograma, os praticantes da meditação demonstram ondas cerebrais “mais tranquilas”, apontando uma relação direta entre o comportamento e o estado de espírito do indivíduo.
:: AUTOCONHECIMENTO
Tão difícil quanto se ficar calmo em um momento de muito estresse é ter clareza do seu estado de espírito durante o dia a dia, quando se está mais distraído com as atividades cotidianas.
O autoconhecimento é o objetivo maior da meditação e, segundo especialistas, um dos últimos aspectos a se revelarem ao praticante, em alguns meses de exercício.
Mesmo assim, desde o princípio é possível sentir diferenças em relação à percepção corporal, por exemplo.
— Todos os outros benefícios da meditação, como a percepção corporal ou o controle dos impulsos mais agressivos, são subprodutos em relação ao autoconhecimento: são importantes, mas ocorrem mais rapidamente e são mais fáceis de identificar — explica Taísa Canabarro.
Fontes: Psicopedagoga e facilitadora de ioga para crianças Taisa Canabarro; psiquiatra e fundadora da Mahatma Meditação Anmol Amora; Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, número 7, de 2012; Annals of the New York Academy of Sciences, de 2013.
Fonte: Site Zero Hora