O nosso sistema nervoso central (SNC) já foi considerado uma estrutura rígida e imutável mas após diversos estudos comprovou-se a sua plasticidade neural. Esta seria a capacidade que o SNC tem em modificar algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta aos estímulos do ambiente. Sendo assim, consideramos que existe uma adaptabilidade do SNC às mudanças e lesões que venha a sofrer. Acreditando nisto a psicologia e outras ciências do comportamento humano acreditam que se o indivíduo sofreu um trauma, ou tem dificuldade de mudar a sua maneira de pensar e agir através de uma reestruturação cognitiva, ele pode modificar comportamentos não-adaptativos por adaptativos.
Nossa mente e nosso corpo estão intimamente ligados. Portanto na medida em que sentimos determinadas emoções ou nos submetemos ao estresse, eles reagem juntos. A reação por sua vez pode desencadear em uma psicossomatização.
Quando estamos submetidos a um alto nível de estresse e dor, o nosso sistema nervoso simpático produz uma resposta de “luta ou fuga”, utilizando suas energias para se proteger de um perigo iminente, sinalizando para as glândulas liberarem cortisol e adrenalina, hormônios responsáveis por acelerarem os batimentos cardíacos, aumentarem o nível de açúcar no sangue e dilatarem os vasos sanguíneos. Assim, o corpo fica submetido a um estresse crônico ocasionando em um adoecimento.
Nestas situações precisamos ativar o sistema nervoso parassimpático, responsável por relaxar e abaixar os níveis de estresse. Dentre as atividades mais reconhecidas e comprovadas cientificamente, a meditação é a mais utilizada, já que pode ser adaptada em qualquer situação.
Porém quando estamos estressados e ansiosos, temos dificuldade de fazer uma pausa e acreditamos que para conseguir meditar, precisamos esvaziar a cabeça. E nós sabemos que vivendo em meio a tantos estímulos estressores, é quase impossível tentar não pensar em nada. Mas atualmente tem se falado bastante da Mindfulness, uma meditação orientada e dirigida, que produz relaxamento, atenção plena e uma abertura para lidar com as emoções negativas e positivas.
A prática do Mindfulness favorece uma melhora na regulação da emoção, que é a capacidade que o indivíduo tem de lidar com situações adversas e estressantes, sem trazer prejuízos para a própria vida. Assim, associada a uma prática psicoterápica é possível aprender novas respostas adaptativas.
Além disso a Terapia baseada em Mindfulness ajuda a reduzir sintomas de ansiedade, depressão e dores crônicas. Diversas pesquisas evidenciam os benefícios da técnica em pacientes oncológicos, diminuindo efeitos colaterais das drogas quimioterápicas como por exemplo enjoo, dor e ansiedade, e permite que o paciente consiga levar a atenção para longe das preocupações e pensamentos negativos que potencializam o estado deprimido do paciente, reduzem o stress e aumentam a imunidade.
Além disso a prática do Mindfulness permite que o paciente possa, através da curiosidade, investigar o momento presente sem julgamentos para ao invés de reagir aos estímulos externos, poder aceitar o presente, perceber e acolher as emoções que surgem, mesmo que negativas e assim responder com assertividade ao meio.
Fonte: Dr. Juliana Orrico, para ‘O Estado de São Paulo’. Publicado em 01.11.2017