As inundações em diversos pontos da Grande São Paulo nesta segunda-feira (10) obrigaram milhares de pessoas a ter contato com a água poluída que invadiu ruas, casas e comércios. Situações assim são potencialmente perigosas, pelo risco de contrair vírus e bactérias.
O médico infectologista João Prats, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, afirma que é comum o aumento de casos de leptospirose nos hospitais alguns dias após enchentes.
Segundo ele, a bactéria Leptospira, que provoca a doença, consegue entrar no corpo através da pele sadia.
“Não precisa que você tenha nenhum ferimento. E quanto mais tempo, mais água e quanto mais vezes você se expuser [à água suja], maior a chance de você pegar.”
Muitas pessoas podem não perceber que estão com leptospirose. Os primeiros sintomas surgem entre três e 14 dias e incluem febre, dor de cabeça e dores musculares (principalmente nas panturrilhas e costas). A maioria delas se recupera bem em uma semana.
No entanto, há casos em que a leptospirose pode evoluir para a chamada fase imune, em que os sintomas reaparecem.
Segundo o Manual Merck de Diagnóstico e Tratamento, os sintomas “resultam de inflamação causada pelo sistema imunológico à medida que elimina a bactéria do corpo. A febre retorna e os tecidos que recobrem o cérebro e a medula espinhal (meninges) podem ficar inflamados. Essa inflamação (meningite) causa rigidez no pescoço e dor de cabeça”.
É nesta fase que também pode haver a síndrome de Weil, em que a pele e os olhos ficam amarelados, devido ao dano no fígado. Também há risco de problemas renais e pulmonares. Complicações desse tipo não são frequentes, afirma o médico.
Prats dá dicas para quem teve que se expor à água de alagamentos.
“Chegue em casa e tome um bom banho, se limpe muito bem e coloque a roupa para lavar.”
Ele também ressalta que o uso de calçado ajuda a minimizar o risco de contaminação quando a pessoa é obrigada a pisar na água.
A via oral é outra forma de contaminação em casos de enchente, seja pelas mãos sujas levadas à boca ou até mesmo pelo consumo de alimentos que estiveram em contato com a água, de acordo com o médico.
“Dentre esses coliformes fecais, a bactéria tipo E.coli é a mais comum que causa doenças. Você pode pegar uma que cause apenas uma diarreia ou uma mais invasiva.”
Casos mais graves de infecções por coliformes fecais podem evoluir para sepse, afirma o infectologista.
A hepatite A é outra doença que pode ser contraída após o contato com água de inundações.
Esse vírus é transmitido por meio fecal-oral — exposição a fezes humanas, muito comum quando há esgoto em meio à enchente.
“Algumas pessoas já têm anticorpos contra hepatite A por terem sido expostas antes, outras não”, afirma Prats.
Os sintomas da doença incluem perda de apetite, mal-estar, vômito, dor na região abdominal, urina escura e pele e olhos amarelados (70% dos casos). A recuperação pode levar alguns meses.
A recomendação do médico é que não se consuma nenhum tipo de alimento ou se use utensílios que tenham entrado em contato com água de enchente. “Esse vírus fica no ambiente por um tempo razoável.”
Fonte: Portal R7